O CCLA abre exposição para celebrar seus 120 anos

Fúlvia Gonçalves, artista plástica, realiza mostra de aquarelas inspiradas por poemas de Mallarmé
Stéphane Mallarmé
Stéphane Mallarmé

Ao completar seus 120 anos de história, o Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA) de Campinas abriu a exposição Mallarmé – A transfiguração das Palavras da artista Fulvia Gonçalves. Ela ficará aberta para visitação gratuita até o final de dezembro, mas ainda em horários dias e horários restritos. Em função da pandemia, o expediente do Centro está restrito a três dias por semana (terças, quartas e quintas-feiras, das 9h30 às 16h30h). A instituição preserva de maneira admirável a memória e os acervos da cidade.

O presidente Alcides Ladislau Acosta explica que os eventos artísticos presenciais estão sendo retomados progressivamente. “Em novembro e dezembro devem ser oferecidos um recital da ABAL (Associação Brasileira de Artistas Líricos) em cada mês e, em 2022, a tendência é a retorno normal das apresentações musicais em periodicidade quinzenal. O auditório, com 200 lugares, sedia esses eventos e guarda histórias. Parte das cadeiras pertenciam ao Teatro Municipal Carlos Gomes, demolido em 1966. No palco, um piano de cauda aguarda a retomada dos recitais.

“No início deste século 21, o CCLA continua o seu empenho de valorizar diversas linguagens artísticas e promover reflexões permanentes em vários segmentos”, afirma Alcides. A entidade acaba de criar o Departamento de Ecologia para promover debates sobre os desafios ambientais. Outro movimento para renovação é trazer jovens que ajudem na busca por temas vinculados à sustentabilidade, desafios da tecnologia e modernidade.

A sede fica no imóvel de três andares, estilo Art Decó, na esquina da Avenida Francisco Glicério com a Rua Bernardino de Campos. Inaugurado em 1942, o prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico pela importância histórica, cultural e arquitetônica.

É nesse espaço que estão a biblioteca de 150 mil volumes (sendo 800 raros), uma Pinacoteca com 180 obras e dois Museus, um dedicado ao Maestro Carlos Gomes e outro ao ex-presidente Campos Sales.

A entidade cultural particular e sem fins lucrativos foi fundada em 31 de outubro de 1901, quando Campinas tinha cerca de 70 mil habitantes. Sua história foi iniciada por um grupo de cientistas, médicos e professores, além de jornalistas e intelectuais que queriam um local onde pudessem debater questões científicas e artísticas. Teve início com a ideia de César Bierrenbach e apoio de cientistas do Instituto Agronômico e professores do Colégio Estadual Culto à Ciência.

Entre histórias e raridades

As largas escadas de mármore logo na entrada do Centro dão acesso ao saguão onde fica a Galeria de Artes, com vitrines de vidro para objetos históricos. É nesse espaço que está a exposição da artista Fúlvia Gonçalves, com quadros inspirados em textos do poeta Stéphane Mallarmé (na tradução de Joaquim Brasil Fontes). No último dia 28 foi inaugurado o retrato do ex-presidente Marino Ziggiatti, hoje com 96 anos de idade, pintado a óleo pelo artista plástico Arthur Blade. Logo acima da galeria um painel indica a cronologia da carreira política de Campos Sales, campineiro que foi vereador, deputado, governador da província de São Paulo e presidente da República (1898/1902).

A Biblioteca foi fundada em 1901 e guarda, até hoje, um dos mais importantes acervos do País, com mais de 150 mil títulos, entre eles obras raras que datam desde 1600, coleções de revistas e jornais de Campinas dos séculos 18, 19 e 20, além de outras preciosidades que são fonte de pesquisa para universidades. O atendimento na biblioteca é somente de consultas para pesquisa, teses, leitura no local, mas esse ano ainda permanece restrito. A Pinacoteca tem um acervo composto por 180 obras e pode ser considerada a mais expressiva coleção de obras de arte de Campinas. São telas assinadas por Benecdito Calixto, Almeida Júnior, Lasar Segall, Bruno Giorgi, Fernando Piendereck e Salvador Caruso, entre outros. Há também pinturas, desenhos, gravuras ou esculturas de artistas de Vanguarda e da Arte Contemporânea. Oficializado em 1956, o Museu Carlos Gomes guarda o arquivo musical do compositor campineiro, com aproximadamente 3 mil obras, entre coleções de manuscritos e impressos, libretos de óperas, partituras originais, fotos da época e documentos, além de seu piano, harpa e baquetas. Junto estão as coleções particulares de seu pai, José Manuel Gomes (o Maneco Músico), e de seu irmão e músico, José Pedro de Sant´Anna Gomes.

Manuel Ferraz de Campos Sales foi o segundo presidente civil da República (1898-1902) e deixou um legado de fotos, objetos pessoais, livros publicados, bustos, jornais e revistas da época.

Acessibilidade e segurança

O cancelamento dos eventos culturais e visitas, por conta da pandemia, acabou favorecendo a realização de melhorias na estrutura física. Uma delas é a instalação de um elevador para permitir melhor acessibilidade aos três andares do prédio. Embora com uma invejável infraestrutura, o imóvel projetado por Lix da Cunha em 1941 em área de 1.060 m² não foi planejado para ter elevador (na época essa exigência era apenas para prédios acima de três andares). A previsão é que em março ele já esteja funcionando. Outra novidade em andamento é a instalação de um completo sistema de combate a incêndio. Essa preocupação sempre existiu, mas faltavam recursos, explica o presidente. Com a recente venda de um imóvel, a instituição conseguiu recursos para esses investimentos.

ANOTE

Sede do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas: Rua Bernardino de Campos – 989

Funcionamento: terças, quartas e quintas-feiras, das 9h30 às 16h30h

Telefones: (19) 3231-2567 | 3232-7119

Entrada gratuita

Escrito por:

Cibele Vieira / Caderno C / Correio Popular – 28-10-2021