O CCLA abre exposição para celebrar seus 120 anos


Ao completar seus 120 anos de história, o Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA) de Campinas abriu a exposição Mallarmé – A transfiguração das Palavras da artista Fulvia Gonçalves. Ela ficará aberta para visitação gratuita até o final de dezembro, mas ainda em horários dias e horários restritos. Em função da pandemia, o expediente do Centro está restrito a três dias por semana (terças, quartas e quintas-feiras, das 9h30 às 16h30h). A instituição preserva de maneira admirável a memória e os acervos da cidade.
O presidente Alcides Ladislau Acosta explica que os eventos artísticos presenciais estão sendo retomados progressivamente. “Em novembro e dezembro devem ser oferecidos um recital da ABAL (Associação Brasileira de Artistas Líricos) em cada mês e, em 2022, a tendência é a retorno normal das apresentações musicais em periodicidade quinzenal. O auditório, com 200 lugares, sedia esses eventos e guarda histórias. Parte das cadeiras pertenciam ao Teatro Municipal Carlos Gomes, demolido em 1966. No palco, um piano de cauda aguarda a retomada dos recitais.
“No início deste século 21, o CCLA continua o seu empenho de valorizar diversas linguagens artísticas e promover reflexões permanentes em vários segmentos”, afirma Alcides. A entidade acaba de criar o Departamento de Ecologia para promover debates sobre os desafios ambientais. Outro movimento para renovação é trazer jovens que ajudem na busca por temas vinculados à sustentabilidade, desafios da tecnologia e modernidade.
A sede fica no imóvel de três andares, estilo Art Decó, na esquina da Avenida Francisco Glicério com a Rua Bernardino de Campos. Inaugurado em 1942, o prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico pela importância histórica, cultural e arquitetônica.
É nesse espaço que estão a biblioteca de 150 mil volumes (sendo 800 raros), uma Pinacoteca com 180 obras e dois Museus, um dedicado ao Maestro Carlos Gomes e outro ao ex-presidente Campos Sales.
A entidade cultural particular e sem fins lucrativos foi fundada em 31 de outubro de 1901, quando Campinas tinha cerca de 70 mil habitantes. Sua história foi iniciada por um grupo de cientistas, médicos e professores, além de jornalistas e intelectuais que queriam um local onde pudessem debater questões científicas e artísticas. Teve início com a ideia de César Bierrenbach e apoio de cientistas do Instituto Agronômico e professores do Colégio Estadual Culto à Ciência.
Entre histórias e raridades
As largas escadas de mármore logo na entrada do Centro dão acesso ao saguão onde fica a Galeria de Artes, com vitrines de vidro para objetos históricos. É nesse espaço que está a exposição da artista Fúlvia Gonçalves, com quadros inspirados em textos do poeta Stéphane Mallarmé (na tradução de Joaquim Brasil Fontes). No último dia 28 foi inaugurado o retrato do ex-presidente Marino Ziggiatti, hoje com 96 anos de idade, pintado a óleo pelo artista plástico Arthur Blade. Logo acima da galeria um painel indica a cronologia da carreira política de Campos Sales, campineiro que foi vereador, deputado, governador da província de São Paulo e presidente da República (1898/1902).
A Biblioteca foi fundada em 1901 e guarda, até hoje, um dos mais importantes acervos do País, com mais de 150 mil títulos, entre eles obras raras que datam desde 1600, coleções de revistas e jornais de Campinas dos séculos 18, 19 e 20, além de outras preciosidades que são fonte de pesquisa para universidades. O atendimento na biblioteca é somente de consultas para pesquisa, teses, leitura no local, mas esse ano ainda permanece restrito. A Pinacoteca tem um acervo composto por 180 obras e pode ser considerada a mais expressiva coleção de obras de arte de Campinas. São telas assinadas por Benecdito Calixto, Almeida Júnior, Lasar Segall, Bruno Giorgi, Fernando Piendereck e Salvador Caruso, entre outros. Há também pinturas, desenhos, gravuras ou esculturas de artistas de Vanguarda e da Arte Contemporânea. Oficializado em 1956, o Museu Carlos Gomes guarda o arquivo musical do compositor campineiro, com aproximadamente 3 mil obras, entre coleções de manuscritos e impressos, libretos de óperas, partituras originais, fotos da época e documentos, além de seu piano, harpa e baquetas. Junto estão as coleções particulares de seu pai, José Manuel Gomes (o Maneco Músico), e de seu irmão e músico, José Pedro de Sant´Anna Gomes.
Manuel Ferraz de Campos Sales foi o segundo presidente civil da República (1898-1902) e deixou um legado de fotos, objetos pessoais, livros publicados, bustos, jornais e revistas da época.
Acessibilidade e segurança
O cancelamento dos eventos culturais e visitas, por conta da pandemia, acabou favorecendo a realização de melhorias na estrutura física. Uma delas é a instalação de um elevador para permitir melhor acessibilidade aos três andares do prédio. Embora com uma invejável infraestrutura, o imóvel projetado por Lix da Cunha em 1941 em área de 1.060 m² não foi planejado para ter elevador (na época essa exigência era apenas para prédios acima de três andares). A previsão é que em março ele já esteja funcionando. Outra novidade em andamento é a instalação de um completo sistema de combate a incêndio. Essa preocupação sempre existiu, mas faltavam recursos, explica o presidente. Com a recente venda de um imóvel, a instituição conseguiu recursos para esses investimentos.
ANOTE
Sede do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas: Rua Bernardino de Campos – 989
Funcionamento: terças, quartas e quintas-feiras, das 9h30 às 16h30h
Telefones: (19) 3231-2567 | 3232-7119
Entrada gratuita
Escrito por:
Cibele Vieira / Caderno C / Correio Popular – 28-10-2021