Gustavo Omar Corrêa Mazzola
Lá pelas sete, sete e meia, eles começam a chegar: silenciosos, discretos, de ares compenetrados, vão tomando seus lugares no acolhedor auditório de duzentas cadeiras de madeira, cinquenta das quais, logo na entrada, as mesmas que já foram do antigo Teatro Municipal de Campinas. Quem são? Ora, os habituais frequentadores dos eventos culturais carinhosamente preparados pelo Centro de Ciências, Letras e Artes, atividades sempre à disposição da comunidade de Campinas.
O CCLA, como é chamado pelos que lhe são mais chegados, além de sua programação cultura, trabalha pela preservação do patrimônio histórico do Brasil. Mantém em sua sede, à Rua Bernardino de Campos, esquina com a Avenida Francisco Glicério, um precioso museu sobre Carlos Gomes, que tem no acervo o seu piano, peças e manuscritos inéditos do maestro campineiro, uma biblioteca, com obras raras datadas desde o ano de 1500, jornais e revistas de Campinas do Século XIX, e uma pinacoteca onde estão guardadas obras dos pintores mais célebres do nosso país, como Benedicto Calixto, Almeida Junior, Lasar Segall e Bruno Giorgi. É mesmo ciência e arte à disposição de interessados em sua pauta de realizações… todo santo dia!
Uma verdade precisa ser colocada: esse celeiro de cultura deveria ser melhor prestigiado pela nossa cidade. Como? Através de mais frequente apoio de entidades oficiais e de particulares – sempre necessário para sua manutenção – e com a presença mais assídua da comunidade às suas atividades. Ali, um grupo de obstinados entrega-se de corpo e alma à elevação da cultura e à preservação da memória nacional, registrando sempre iniciativas marcantes: ações dentro da música, da literatura, da ciência, das artes de um modo geral, cada vez melhores adequações de conforto e praticidade em sua sede social… até planos audaciosos de uma nova sede, moderna e funcional como sonham seus mais ligados entusiastas.
Entre todos os eventos realizados em 2019, por exemplo – lembra Alcides Ladislau Acosta, seu presidente na atual gestão da entidade -, já em fevereiro, quarenta e dois interessados nas realizações do CCLA participavam da abertura da temporada artística da ABAL, quando se apresentaram os tenores Sebastião Teixeira e Fernando de Castro, acompanhados pelo pianista Chiquinho Costa. E, durante todo o ano, foi um suceder de outros bons momentos culturais, como o lançamento dos dois livros de Roberto Caniato, “Currupira” e “Abrindo as Asas”; apresentação de telas do pintor Marcelo Grespan; uma exposição sobre o poeta campineiro Guilherme de Almeida, trabalho realizado sob a curadoria do jornalista João Bührer. Em setembro, mês consagrado a Carlos Gomes, um concerto em homenagem ao maestro campineiro, culminando com a tradicional realização anual do Concurso Estímulo para Jovens Cantores Líricos, em sua XII edição. No dia 31 de outubro, um tocante evento marcou seu aniversário, quando a ex-presidente Days Peixoto Fonseca brindou os presentes com uma palestra sobre a obra do Centro nesses seus 118 anos.
Sua história teve início com a ideia de Cesar Bierrenbach e de intelectuais motivados pela filosofia positiva, com apoio de cientistas do Instituto Agronômico e mestres do, então, Colégio Estadual Culto à Ciência. Inicialmente, pensavam formar um grêmio de estudos científicos, projeto que logo evoluiu para uma aventura muito maior, a criação de uma associação privada de finalidade cultural, o que se firmou em histórica assembleia no Clube Campineiro. 99 fundadores aprovaram os estatutos da nova sociedade no dia 31 de outubro de 1901, data de sua fundação.
Como escreveu o acadêmico Luiz Carlos Ribeiro Borges no livro que conta a história de mais de cem anos da entidade, “Centro de Ciências, Letras e Artes, ano 101”, “a persistência desse sonho prodigioso e a pertinácia de quantos o tem sonhado constituem o fermento que lhe assegurará a conquista de outros centenários”.
Gustavo Mazzola
é jornalista e membro da Academia Campinense de Letras