Literatura

A literatura está na essência da criação e da biografia do Centro de Ciências, Letras e Artes. Muitos de seus idealizadores eram “homens de letras”, escritores, jornalistas, professores, incluindo o primeiro orador, Henrique Maximiano Coelho Netto (1864-1934). Membro da Academia Brasileira de Letras, ele já era um escritor famoso quando viveu alguns anos em Campinas, como professor do Colégio Culto à Ciência. Nessa altura ele já tinha escrito romances como “A capital federal” (1893); “O rei fantasma” (1895), “Sertão” (1896) e “Inverno em flor” (1897), além dos livros de contos “Baladilhas” (1894) e “Fruto proibido” (1895).

Biblioteca do CCLA, com grandes nomes da literatura, é fonte permanente de consulta por estudantes e pesquisadores
Biblioteca do CCLA, com grandes nomes da literatura, é fonte permanente de consulta por estudantes e pesquisadores

Crédito Foto: Martinho Caires

Foi por proposta de Coelho Netto que o primeiro evento público do CCLA tenha sido uma homenagem a Victor Hugo (1802-1885), realizada com grande pompa no Club Campineiro, marcando o centenário do escritor francês. A concorrida cerimônia teve poesias de autoria de Hugo, discurso do próprio Coelho Netto e apresentação de orquestra que tinha a participação de José Pedro Sant´Anna Gomes, irmão de Carlos Gomes.

Um dos principais mentores do CCLA, Cesar Bierrenbach, era um grande escritor e amigo de muitos intelectuais, de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Ele dá nome à Biblioteca do CCLA que, com seus mais de 150 mil volumes, é uma das mais importantes coleções históricas do Brasil. A Biblioteca também possui, além de livros, notável coleção de jornais de Campinas, desde a década de 1870, como “Gazeta de Campinas” e “Diário do Povo”.

A Biblioteca do CCLA já foi fonte de dezenas de teses de mestrado e doutorado, e é local de consulta permanente por estudantes e pesquisadores. Por mais de 50 anos a biblioteca foi orientada pela bibliotecária Maria Luiza Pinto de Moura, de saudosa memória.

O CCLA e “Os Sertões”, de Euclides da Cunha

Em 1902, era publicado um dos livros mais importantes da história do Brasil, “Os Sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909). Um marco na interpretação do país, na análise da formação brasileira, a partir dos relatos do autor sobre a Guerra de Canudos, que acompanhou como correspondente do “Estado de São Paulo”.

Pois, antes de sua publicação, os originais de “Os Sertões” foram lidos pelo próprio Euclides da Cunha, em Campinas, para uma seleta plateia, composta por Coelho Netto, Cesar Bierrenbach e José de Campos Novaes. Euclides estava na opinião de Coelho Netto sobre sua obra, antes de sua publicação.

Consta que, por um desentendimento, Euclides deixou o local da leitura sem ouvir a sua opinião. Isso porque, durante a leitura, Coelho se levantou para fumar, o que era seu hábito. Foi quando Euclides deixou o recinto. Posteriormente houve a reconciliação, quando “Os Sertões” já era um grande sucesso, como conta Paulo Coelho Netto (in “Coelho Netto”, Zelio Valverde Livraria Editora, Rio de Janeiro, 1942).