Chamada dos Heróis Combatentes

Genaro Campoy Scriptore

No dia em que celebramos esta data histórica, capítulo heroico e cívico vivido pela altivez do povo campineiro, do povo brasileiro e porque não dizer dos paulistas que fizeram a diferença no movimento liberal acontecido entre 1835-1842 que sacudiu o início do segundo império, não poderíamos ficar somente no discurso das façanhas das batalhas é preciso acima identificar os personagens, vultos históricos que exerceram ideais libertários constitucionais que são o coração da República Federativa do Brasil.

Enquanto no Brasil uma sociedade conhecida como Conselho da Sociedade dos Patriarcas Invisíveis, com sede no Rio de Janeiro, em meio à corte do jovem Dom Pedro II, fomentava a insurreição para  sustentar e defender debaixo deste novo laço social a Independência do Brasil, e a Constituição do Império, do outro lado enfrentando uma guerra externa, os poderes constituídos defendiam a Regência, o Imperador e a Constituição e a pergunta que não calava era: “Quem era o inimigo? Os Liberais que se armavam ou os conservadores que se aliavam aos regressistas?” Em um fogo amigo os brasileiros se dizimavam em Campinas, Limeira, Sorocaba, Santa Luzia, Porto Alegre na busca de um caminho de amor ao Brasil e à Pátria.

Este capítulo do Combate da Venda Grande é precioso para nossa cidade, para nossa história e não podemos deixar de nominar alguns dos atores deste evento. Do Rio de Janeiro, no dia 18 de maio zarpava do porto, as 8:00 horas da manhã, quatro barcas de vapor: “A Especuladora, Paquete do Sul, Pernambucana e São Sebastião” com 700 praças do 12º Batalhão de Caçadores com destino a Santos.

Por terra, em 19 de maio, seguiam mais 400 praças do Batalhão de Fuzileiros e no vapor “Todos os Santos”, embarcava o Comandante em Chefe do Exército. General Luiz Alves de Lima e Silva, na época o Barão de Caxias.

Em Campinas no Engenho da Lagoa, sítio do finado Theodoro Ferraz, o lugar conhecido como “Venda Grande”, na estrada em direção a Limeira, no mesmo local que nossas vistas alcançam ao nosso derredor, se reunia um grupo de não mais do que 300 ou 350 rebeldes, portando armas de caça, alguns participantes da Guarda Nacional, fazendeiros e gente do povo que tinham laços com os liberais que haviam eleito Rafael Tobias de Aguiar como Presidente da Provincia de São Paulo com a liderança e aconselhamento de Diogo Antonio Feijó, o “paulistano campineiro”.

O Barão de Caxias não precisou vir a Campinas. Enviou o Coronel Amorim Bezerra com 3 cadetes do 12º para instruir os improvisados soldados conservadores em Campinas e uma força de soldados militarmente preparados que chegou em 6 de junho de 1842 em Campinas se juntando aos soldados da guarda pessoal do Padre João José Vieira Ramalho, agricultor, dono da fazenda Boa Vista e fundador da cidade de São João do Jaguary, hoje São João da Boa Vista, que detinha uma milícia particular utilizada para defender seus interesses e de sua fazenda, aos soldados da Guarda Nacional liderados pelos Coronel José Franco de Andrade e pelo major Joaquim Quirino dos Santos.

Das forças imperiais comandadas pelo coronel Amorim Bezerra, em relatório ao Barão de Caxias são mencionados com distinção:

No dia 7 de junho, com 120 homens de cavalaria e infantaria, o Coronel Amorim Bezerra, dirige-se para a fazenda da Lagoa, no Engenho da Lagoa ou Venda-Grande, onde estavam acampados 50 homens, que chegaram no meio do mês de maio de 1842 de diversas paragens e mais 130 homens da chamada “Coluna Libertadora”, trazidos pelo valente Capitão Boaventura Soares do Amaral, que abastecera os homens com armamentos, munição e uma peça, canhão, de artilharia. Tal peça, possivelmente, nunca foi usada por total despreparo dos rebeldes.

  1. O alferes do 12º Batalhão Carlos Cirilo de Castro
  2. II tenente João Jacques Godfroy, cadete de artilharia
  3. Alferes de comissão João José Pereira do 12º Batalhão
  4. Cadete em serviço do oficial João José Pereira do 12º Batalhão
  5. Sargento Joaquim Theodoro do 12º Batalhão
  6. Sargento de Guardas Nacionais Antonio do Rego Dante

O número de mortos no Combate de Venda Grande, nunca foi realmente apurado. O relatório dos soldados do Barão de Caxias contou 17 mortos; historiadores e cronistas falam em 19 ou 20 combatentes mortos; Amador Bueno Machado Florence, em sua crônica, quarenta anos depois do evento, relaciona alguns mortos:

1. Boaventura do Amaral Soares de Camargo.

2. Antonio Joaquim Vianna.

3. “Negueime”, apelido de um primo de Joaquim Bonifácio do Amaral, o Sete Quedas, Visconde de Indaiatuba.

4. João Evangelista Monteiro, um primo de Juca Salles.

5. Um tal de João Francisco, que talvez seja, João Sapateiro, nome que Amador Bueno Machado Florence identifica como alfaiate, oficial, mestre de ofício, do Cezarino, refere-se Antonio Ferreira Cezarino que nesta época era um prestador de serviços na comunidade.

6. Um camarada do Bittencourt, provavelmente um dos colonos ou empregado de Antonio Pio Correia Bittencourt que também participou do combate, que não se recorda o nome.

Da força Imperial pereceu somente um soldado do Padre Ramalho.

Quanto aos feridos, Amador Bueno Machado Florence, relaciona:

1. Antonio Alfaiate, baleado de revés na cabeça.

2. Joaquim Cardoso, irmão de Manoel Cardoso, tio do maestro Santana Gomes e de Antonio Carlos Gomes, baleado no peito, que se recuperou graças ao acolhimento e ajuda dos sitiantes da redondeza.

3. José Antonio da Silva, ferido no braço.

Narra Amador Bueno Machado Florence, filho de Hercule Florence, curioso fato acontecido na fazenda do major Luciano Teixeira Nogueira, sobre o único prisioneiro de guerra, feito pelos revolucionários paulistas. Um jovem oficial que cumpria o serviço militar em Campinas, José Manoel de Castro, que no futuro despontaria como importante fazendeiro na região, desavisadamente foi à fazenda de Luciano Teixeira Nogueira e lá chegando foi detido pelo major e seus trinta companheiros, que o levaram para Sorocaba na comitiva que conduziu o Padre Feijó.

Em Sorocaba exerceu José Manoel de Castro, a função de impressor e tipógrafo do jornal “O Paulista”, editado por Hercule Florence, pai do narrador deste fato, com quem desenvolveu grande amizade, a ponto de fugirem juntos montados em um único animal com destino a Porto Feliz, após a fuga em massa acontecida no final da Revolta. Quanto retornaram para Campinas foram anistiados.

E agora com o objetivo de relembrar estes valentes combatentes faço uma singular chamada de seus nomes que compilei das menções feitas pelo Doutor Antonio Carlos de Moraes Salles, Amador Bueno Machado Florence e por João Baptista Moraes.

Parodiando o Príncipe dos Poetas, o campineiro Guilherme de Almeida empresto algumas linhas do poema Oração ante a última trincheira, uma homenagem a Revolução de 1932, para homenagear os nomes destes distintos campineiros, paulistas e brasileiros.

Agora é o silêncio…

É o silêncio que faz a última chamada…

É o silêncio que responde:

— “Presente!”

Depois será a grande asa tutelar de São Paulo,

asa que é dia, e noite, e sangue, e estrela, e mapa

descendo petrificada sobre um sono que é vigília.

E aqui ficareis Heróis-Mártires, plantados,

firmes para sempre neste santificado torrão de

chão paulista.

Para receber-vos feriu-se ele da máxima

de entre as únicas feridas na terra,

que nunca se cicatrizam,

porque delas uma imensa coisa emerge

e se impõe que as eterniza.

Só para o alicerce, a lavra, a sepultura e a trincheira

se tem o direito de ferir a terra….

(À menção de cada nome, os participantes do evento respondem “PRESENTE”)

COMBATENTES DA VENDA GRANDE
Ângelo Custodio Teixeira Nogueira
Antonio Alfaiate
Antonio Castelhano
Antonio Custódio de Morais
Antonio de Cerqueira
Antonio Joaquim Viana
Antonio Manuel Teixeira
Antonio Pio Correia Bitencourt
Bento Martins
Boaventura do Amaral Soares de Camargo
Cândido Pompeu
Carlos Augusto do Amaral
Casemiro de Lima
Diogo Benedito dos Santos Prado
Emídio Carpinteiro
Felipe Cesar Cerqueira Leite
Fidencio Bueno de Camargo
Floriano de Lima
Francisco Borges da Cunha
Francisco Cardoso
Francisco de Assis Pupo
Francisco de Barros Leite
Francisco Dias Aranha
Francisco Luiz das Chagas
Francisco Marcelino de Morais
Francisco Teixeira Nogueira
Gonçalo da Silva
Inácio de Oliveira
João Batista Pupo de Morais
João Dias Aranha
João Evangelista Monteiro
João Sapateiro
João Tamoio
Joaquim Bonifácio do Amaral
Joaquim Cardoso
Joaquim Custódio de Lima
Joaquim Incarnação
Joaquim Pinto de Camargo
José Antonio da Silva
José Inácio Teixeira
José Inocêncio de Camargo
José Maria do Nascimento
José Pedro
José Xavier Leite
Juca Cavalheiro
Luciano Teixeira Nogueira
Luiz Aranha
Luiz Dias Aranha
Malaquias de Tal
Manuel Fernandes Palhares
Manuel Joaquim Ferraz
Manuel Silvestre Martins
Modesto Correia
“Negueime”
Pedro Aleixo
Pedro Aranha
Reginaldo Antonio de Morais Salles
Rodrigo Cesar de Cerqueira
Sargento-Mor Raimundo Alvares dos Santos Prado Leme

Genaro Campoy Scriptore é membro do Conselho Fiscal (Gestão 2022-2024), administrador de empresas e pesquisador; Curador do Museu Campos Salles, do CCLA.