O fabuloso Cesar Bierrenbach

Herma de César Bierrenbach feito pelo escultor Rodolpho Bernardelli. Está localizado na praça frontal à Basílica de N. Sra. do Carmo.

Neste 2021, 7 de abril, completam-se 149 anos do nascimento do fundador do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, (CCLA), João César Bueno Bierrenbach. Nascido em 1872, César Bierrenbach é um dos mais admiráveis intelectuais que agrandaram e dignificaram esta cidade. Sabe-se por sua biografia que, dotado de grandes ideais e valores, possuiu oratória vibrante e fluente. Daí seu reconhecimento como tribuno e polemista. Advogado, dono de extensa e invejável cultura, marcou sua trajetória como Professor titular de História Geral do Ginásio do Estado (após, Colégio Culto à Ciência). Também foi jornalista, poeta e vanguardista defensor do latino americanismo.

O antigo bairro de Santa Cruz, onde se localiza atualmente a Praça XV de Novembro, foi o solo de sua infância, na enorme propriedade de seu pai, o capitão João Antônio Bierrenbach que, em 1857, introduziu em Campinas, quiçá, a primeira fábrica, dedicada à confecção de chapéus. César Bierrenbach foi o terceiro membro dessa prole campineira dos Bierrenbach, antecedido pelas irmãs, Maria Carolina e Albertina Carolina. Teve outras duas irmãs, Vicentina e Noêmia. Sua mãe, Maria Clementina da Silva Bueno Bierrenbach, foi senhora muito atuante na filantropia da sociedade de então, filha de Vicente Ferreira da Silva Bueno, bacharel em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco (1838), subsequentemente, juiz de Direito em Campinas e outras cidades, desembargador do Tribunal de Relação do Rio de Janeiro, cavaleiro da Ordem de Cristo e parlamentar de grande prestígio.

As irmãs Vicentina e Noêmia destacavam as qualidades do pai, o capitão João Antônio Bierrenbach, a quem definiam como homem “cinquenta anos à frente de seu tempo” e um “gentleman”, e afirmavam que César Bierrenbach herdara dele a mesma “energia e clarividência”. Ainda segundo referidas irmãs, a mãe, d. Maria Clementina, por sua vez, legou a César sua “vivacidade e fidalguia” (in Produções Literárias, obra que elas fizeram publicar, contendo vários textos e poesias de César Bierrenbach, em julho de 1937). Certo é que César, após ficar órfão de pai em 1882, foi privilegiado com primorosa educação nos colégios São Luís, de Itu, e Culto à Ciência, de Campinas. Aluno brilhante em Humanidades no educandário católico de Itu, adquiriu fluência no francês, italiano, alemão, inglês e espanhol, além de domínio perfeito do Português. Cursou, ao lado de outros jovens bem-nascidos, a Faculdade de Direito de São Paulo (1889 a 1892).

César Bierrenbach cresceu contemplado pela ânsia de realizações as mais elevadas. Isso começa a se manifestar ao longo de sua fase de estudos jurídicos na capital paulistana. Quem, hodiernamente, contempla a multidão de pedestres a transitar no Viaduto do Chá não faz ideia que, ao tempo de César, para passar naquela ponte que ligava o bairro ao centro de S. Paulo, o transeunte deveria pagar um pedágio ao município. A primeira façanha de nosso jovem e candente tribuno, em ato naquele local, diante de grande assistência, foi pronunciar inflamado discurso onde abominava o vexatório tributo. Sua palavra obteve tal repercussão que a cobrança foi abolida e a passagem liberada ao povo. Os eloquentes discursos de César Bierrenbach provocavam admiração de quantos o ouviam. Em nova e fervorosa campanha o tribuno reivindicou para que três gloriosos poetas, graduados na Academia do Largo de São Francisco, tivessem seus nomes inscritos sobre os portais de entrada no edifício: Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela. Era a sua homenagem aos admiráveis vates de sua predileção.

Graças aos seus inspirados improvisos, tidos pelos seus contemporâneos como os mais empolgantes e arrebatadores, César Bierrenbach conquistou mentes e corações em muitos embates e saudações cívicas memoráveis, como a acolhida ao féretro de Carlos Gomes que aportava no Rio de Janeiro e, depois, em Campinas. O imponente monumento túmulo ao Maestro, erguido no Marco Zero da cidade, é produto de sua tenaz e incansável capacidade de aglutinar os cidadãos em torno de um ideal. E a fundação do Centro de Ciências, Letras e Artes, cuja aspiração medrou nos anseios de personalidades como o Prof. Henrique Maximiano Coelho Netto, José de Campos Novaes, Francisco de Paula Magalhães Gomes, Henri Potel e de Adolph Hempel, entre outros, foi consolidada e concretizada por César Bierrenbach. A primeira sede provisória do CCLA funcionou em casa cedida pela genitora do fundador, d. Maria Clementina, assim como a construção da primeira sede da entidade, na rua Francisco Glicério, esquina da rua Conceição, contou com o esforço pertinaz do fundador.

César Bierrenbach, podemos dizer, tinha a têmpera de um desbravador apaixonado, que viveu impulsionado pelas fibras do coração. Esse caráter sonhador e criativo o levou ao final trágico, apenas atingidos seus 35 anos de idade. A 2 de julho de 1907, desiludido em seu amor por Hortênsia, terceira e filha mais nova do Barão do Rio Branco, que o rejeitou, (Hortência casar-se-ia em 1909 com o adido diplomata e industrial belga Léon Hamoir), César pôs cobro à vida deixando desolados seus muitos admiradores. Em 6 de março de 1908 o prefeito Orosimbo Maia sancionou ato dando à antiga “rua do Góis” a denominação de rua César Bierrenbach, na área central de Campinas.

Alcides Ladislau Acosta

Jornalista, presidente do Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA)