
Tudo teve início com a ideia de César Bierrenbach e de intelectuais motivados pela filosofia positivista, com apoio de cientistas do Instituto Agronômico e mestres do colégio Culto à Ciência.
Gustavo Omar Corrêa Mazzola
31 de outubro de 2014. É uma noite de festas no Centro de Ciências, Letras e Artes, em Campinas: todos alegres, orgulhosos, estão comemorando os 113 anos de sua fundação. O presidente Marino Ziggiatti já abriu a solenidade, a curadora do Museu Carlos Gomes, Dra. Lenita W. Mendes Nogueira, falou sobre a data e, agora, a plateia aprecia a parte artística, o recital dos vencedores do VII Concurso Estímulo para Jovens Cantores Líricos, a mais importante realização do ano da entidade.
Sentado na terceira fileira, primeira poltrona do lado direito do auditório, desligo-me de tudo ao meu redor e, ao som das inspiradas interpretações líricas que invadem o ambiente, sinto como se, diante de mim, desenrolasse uma vibrante história, a história do Centro: o que de importante aconteceu nos seus mais de cem anos. Vamos, mergulhe comigo nessas lembranças.
31 de outubro de 1901. O final do século XIX definia a fisionomia física, social e cultural de Campinas. A partir de investimentos na região, em 1872, começava a ser implantada uma rede ferroviária, que rapidamente se ampliou. Surgiram inúmeros edifícios públicos e particulares, marcando o ingresso da cidade na modernidade: a estação da estrada de ferro, a Santa Casa de Misericórdia, a Beneficência Portuguesa, o Rinque de Patinação, a Catedral. Já tínhamos a iluminação a gás e os bondes – com tração animal -, expandiam-se os meios de comunicação.
Neste cenário começou a existir o Centro de Ciências, Letras e Artes. Tudo teve início com a ideia de César Bierrenbach e de intelectuais motivados pela filosofia positivista, com apoio de cientistas do Instituto Agronômico e mestres do colégio Culto à Ciência. Inicialmente, pensavam formar um grêmio de estudos científicos, projeto que logo evoluiu para uma aventura muito maior, a criação do Centro de Ciências, Letras e Artes, associação privada instituída em histórica Assembleia Geral no Clube Campineiro. 99 fundadores aprovaram os estatutos da nova sociedade.
Ao longo dos anos, a entidade, que trazia entre seus princípios fundamentais o desenvolvimento da cultura, através das ciências, das letras e das artes, prosperou, marcando pontos na história cultural da cidade. Um ano depois de sua fundação, já tinha uma sede, o pavimento superior de um prédio na Barão de Jaguara, cedido pela mãe de Cesar Bierrenbach, e, mais cinco anos, inaugurava uma outra em majestoso prédio na esquina da Francisco Glicério com a Conceição.
As atas de suas reuniões contam, formalmente, a história e as realizações do Centro de Ciências. Mas, os registros mais notáveis e mais acadêmicos de tudo isso estão nas páginas de sua revista, editada ao longo dos anos, o que constitui um verdadeiro repositório dos ideais dos fundadores e de seus continuadores. Ainda hoje, a Revista do Centro de Ciências é editada, cumprindo suas finalidades previstas deste a criação.
Aí chegamos à década de 50. Já instalado na Rua Bernardino de Campos, o Centro de Ciências passou a viver um período de renovação: a partir do presidente João de Souza Coelho, integram-se novos nomes à entidade, como Roberto Pinto de Moura, Marino Ziggiatti (veio para implantar um cineclube e não saiu mais dali), Rodolfo Bueno, Francisco Isolino de Siqueira, Bráulio Mendes Nogueira, José Roberto do Amaral Lapa, José Alexandre dos Santos Ribeiro e Alberto Amêndola Heinzl. Formavam o “Movimento Renovador”. Desse momento em diante, movido pelas novas concepções e conceitos culturais que animavam aquela geração, o Centro transformou-se, despertando o interesse da comunidade. Resultado: um crescimento atípico de associados, que beirou a mil.
Assim, o Centro conta sua história. E com uma realidade que se observa hoje: os ideais de 113 anos atrás ainda são os mesmos, com a entidade seguindo firme no campo das ciências, das letras e das artes. Estão aí os seus museus, Carlos Gomes e Campos Salles, sua pinacoteca, sua biblioteca onde guarda registros históricos memoráveis, seus eventos culturais, seu novo e atualizado site na Internet. E, agora, com um plano audacioso, a construção de uma moderna sede no alto do Taquaral.
31 de outubro de 2014. Do meu lugar, desperto dessas divagações tendo ainda nos ouvidos alguma coisa do encanto erudito dos cantores líricos da noite. Entregam-se diplomas aos ganhadores e personalidades, encerra-se o programa de festas: agora vamos todos para um coquetel no salão ao lado, que esse é o momento de comemorar o acontecimento com uma boa taça de champanhe: um brinde ao Centro de Ciências!
Gustavo Mazzola
Jornalista e membro da Academia Campinense de Letras