CCLA, sempre atento aos desafios contemporâneos

ccla-ideias-1Por José Pedro Martins – A destruição das florestas, para dar espaço aos cafezais, já inquietava os pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas entre o final do século 19 e início do século 20. As estimativas são de que, nesse período, 10 mil quilômetros quadrados – área equivalente a 5% do território de São Paulo e a 10% do território de Cuba – de florestas nativas em território paulista foram substituídas por cafezais.

Os impactos do café e das ferrovias nas florestas de São Paulo foram denunciados no primeiro número da “Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes”, um núcleo de intelectuais criado em Campinas em 1901. As denúncias foram feitas por João Pedro Cardoso, ligado ao Instituto Agronômico e quer seria depois inspetor do 2o Distrito Agronômico de Campinas.

Ainda em 1902, o mesmo João Pedro Cardoso, colaborador do Centro de Ciências, Letras e Artes em outras oportunidades, foi o grande responsável pela comemoração, na cidade de Araras, na região de Campinas, do primeiro Dia da Árvore no Brasil. Cardoso inspirou-se no “Arbor-Day”, que era promovido desde 1872 nos Estados Unidos. O Dia da Árvore passaria a ser comemorado no Brasil todo dia 21 de setembro, na entrada da Primavera, como um símbolo do renascimento da natureza pós-Inverno.

A Revista do CCLA abordar, em seu primeiro número, a questão da devastação das matas, tema de enorme atualidade no início do século 21, é apenas mais um exemplo da importância cultural que o Centro de Ciências, Letras e Artes tem na história de Campinas. Ao longo de sua história centenária, sempre esteve atento aos desafios contemporâneos.

Os originais de “Os Sertões” foram avaliados em encontro de Euclides da Cunha com os co-fundadores do Centro. A primeira exposição modernista no Brasil, de Lasar Segall, foi realizada em 1913 em São Paulo e Campinas, no CCLA. O primeiro cineclube da cidade também funcionou no Centro. A biblioteca do CCLA é uma das mais completas e importantes do Brasil. O Museu Carlos Gomes, maior nome da história cultura da cidade, é abrigado no CCLA. E o Museu Campos Salles, o campineiro que foi o segundo presidente civil do Brasil, também está lá.

São muitos aspectos demonstrando e confirmando a relevância do Centro de Ciências, Letras e Artes, que continua atuante e dará passos importantes visando ratificar ainda mais o seu papel na cidade e região. Por todos estes motivos, o CCLA deveria receber uma atenção maior, um carinho mais cuidadoso, dos poderes públicos e sociedade em geral.

O Centro foi fundamental para Campinas se projetar em termos nacionais. Pois passou da hora da cidade olhar com mais cuidado, respeito e ações práticas, para a instituição que tanto fez e ainda fará muito para a construção e disseminação de conhecimento, em várias áreas.

José Pedro Soares Martins é jornalista e escritor, autor de livros em meio ambiente, cidadania, história e cultura, como “Depois do Arco-Íris – Uma proposta ecológica” (FTD, 1991), “Terra Cantata, uma história da Sustentabilidade” (Komedi, 2007), “Festas Populares do Brasil” (Komedi, 2011), “Capoeira, um patrimônio cultural” (Komedi, 2011) e “Carnaval Encantado” (Komedi, 2013). Recebeu o Prêmio Ethos de Jornalismo de 2003, International Media Awards (1992 e 1995), Prêmio Amizade Norte-Sul em 1992 e Medalha Carlos Gomes do Município de Campinas, entre outros prêmios. É consultor de comunicação.

 



O CCLA - Centro de Ciências, Letras e Artes é uma entidade cultural particular e sem fins lucrativos fundada em 31 de outubro de 1901, na cidade de Campinas/SP, por um grupo de cientistas, artistas e intelectuais que decidiram criar uma instituição em que se pudessem reunir para o estudo e a produção de atividades científicas e artísticas.