Museu Carlos Gomes

O dia 18 de setembro de 1903 é histórico para Campinas. Nesse dia, três nomes referenciais para a cultura brasileira estiveram de alguma forma reunidos na cidade. Alberto Santos Dumont (1873-1932), o Pai da Aviação, que vinha de feitos incríveis e já lendários em Paris, descia na Estação da Companhia Paulista de Ferrovias para participar da colocação da pedra fundamental do monumento-túmulo em homenagem ao maestro e compositor Antônio Carlos Gomes (1836-1896).

Colher usada por Santos Dumont na colocação da pedra fundamental o monumento-túmulo de Carlos Gomes

Colher usada por Santos Dumont na colocação da pedra fundamental o monumento-túmulo do maestro e compositor Carlos Gomes

Crédito Foto: Martinho Caires

Depois das cerimônias e homenagens de praxe, Santos Dumont se dirigiu ao local onde seria construído o monumento, onde originalmente funcionou a Câmara de Vereadores e Cadeia Pública. E o cientista-aviador colocou a pedra fundamental, usando uma colher que compõe, hoje, o acervo do Museu Carlos Gomes, abrigado no Centro de Ciências, Letras e Artes.

O monumento-túmulo a Carlos Gomes foi confeccionado por Rodolfo Bernardelli (1852-1931), escultor nascido no México e naturalizado brasileiro, com importantes obras como estátuas que ornamentam o Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Santos Dumont aceitou retornar a Campinas (onde havia estudado, no Colégio Culto à Ciência), atendendo a convite de Cesar Bierrenbach. E pesou muito para a decisão do aviador o fato de que a primeira manifestação pública do CCLA, no momento de sua criação, em outubro de 1901, fora uma mensagem em tributo às suas conquistas na capital francesa, naquele mesmo ano. A mensagem foi redigida por Coelho Netto, primeiro orador do CCLA e autor da proposta.

Já em 1904 Cesar Bierrenbach teve a iniciativa de começar a reunir itens essenciais para a preservação da memória de Carlos Gomes, que era seu amigo pessoal. Foi a origem do Arquivo Carlos Gomes, composto ainda por objetos pessoais do pai, Manuel José Gomes, e do irmão, José Pedro Sant´Anna Gomes, do maestro e compositor, maior nome da história cultural de Campinas e um ícone brasileiro.

Manuel José Gomes (1792-1868) era mestre-de-capela desde sua chegada a Campinas em 1815, vindo de Santana do Parnaíba, até seu falecimento. Sant’Anna Gomes (Campinas, 1834-1908) atuou como compositor e maestro até o início do século 20. Os dois produziram um vasto material como compositores e copistas, juntando um acervo de música sacra e de banda que guarda algumas raridades como as únicas cópias encontradas até hoje de obras do Pe. José Maurício Nunes Garcia, André da Silva Gomes, Jesuíno do Monte Carmelo, alguns compositores portugueses e italianos, composições do ciclo do ouro mineiro, entre outras. No total, o acervo de música erudita e popular, dos séculos 19 e 20, é composto por mais de 3.000 obras.

Em 1927, o CCLA recebeu o piano de Carlos Gomes, que recebeu do governo do Pará e também integra o acervo do Museu. Também estão no Museu Carlos Gomes as partituras originais de suas grandes obras, como “O Guarani”, “O Escravo” e “Maria Tudor”. O Museu foi oficializado em 1956, com apoio e grande participação do historiador José de Castro Mendes.

O Museu é visitado regularmente por estudantes, pesquisadores e cidadãos em geral, interessados em conhecer um pouco mais deste grande nome da cultura campineira, brasileira e universal, além do importante acervo de outras referências musicais nacionais.

Carta de Carlos Gomes a Cesar Bierrenbach,
pouco antes da morte do maestro e compositor

Peço-te seres interprete de minha profunda gratidão perante nossos conterrâneos, pelas manifestações de afeto que por teu intermédio recebo no leito da dor, provocando lágrimas que se vertem, mas não se descrevem. A primeiro de novembro, sendo férias aqui, embarcarei para o Rio, S. Paulo e terra natal.
Abraça-te com Mamãe-Campinas. Tonico